domingo, 27 de junho de 2010

A tua vinda

O meu quarto esta vazio desde do dia em que deixei de te ver...não tenho mais memorias aonde me possa agarrar pois nem as paredes sangram de dor nem saudade , apodera-se de mim o sentimento de perda...

Saio para a rua e tento encontrar o cheiro do dia , procuro nos meus olhos aquela neblina que viaja num passado distante revelador das maldades do corpo...aquele que tocas-te no verdadeiro dia das duas almas que se encontraram pálidas e sem expressão...vejo agora fugir de mim o teu rosto de serenidade na minha mão morta e branca que perdeu o rasto do amor verdadeiro que sentiu por ti.

Junto ao espelho veias grossas criam em mim a força de sobreviver dando ritmo de vida à expressão do meu olhar , ardem perdidas as nossas palavras nas cinzas da manhã que nos esperavam ao acordar...sonolência a minha caída no peso da consciência , mostra-me a verdade nua crua sem vergonha nem piedade antes que seja tarde...aqueles belos horizontes que percorri afundam-se cada vez mais pelos caminhos ocultos do destino , cruel destino o meu que um dia amou sem nunca ter amado...podia deixar-me ficar mais um pouco se o teu coração deixa-se.

Os meus cabelos ardem suavemente lançando fumos malfeitores que mancham estas paredes amareladas e doentes...pois elas não me escutam mais...apenas o fogo fala enquanto se inflamam as cortinas da noite fechadas neste canto divido e amargurado...atrás mim apelam-se verdades que me magoam....verdade que se esconde na visão dum sol renascido que espreita por entre os ramos a vinda de mais um dia sem ti...

domingo, 20 de junho de 2010

Seguimentos de morte

A manhã chega...renasce mais um dia de sanidade em seus raios , ouvem-se pássaros cantar anunciando a beleza e frescura que paira sobre o ar como um toque de piano dando ritmo as notas melodiosas da madrugada.

O quarto fantasioso do meu exílio leva-me a navegar por suaves sentidos perdidos fazendo-me permanecer distante do bater do coração , sonhos estranhos apoderam-se do meu corpo cansado e torturado sem expressão nem ambição...

O susto de morte revela-se ao acordar e ou adormecer...não aguento estes caminhos estreitos de solidão quebrados e impostos na alma , viajo por este mundo desconhecido à procura dum sinal real , analiso os pares que dançam e as suas formas sociais sem rosto...estou tão longe de sentir uma vida normal como qualquer mortal nas suas mentiras...enquanto vivem mentiras eu perco as suas realidades , agarro-me aos ideais que se escondem pacientemente num presente sem saída.

Arrasto-me sem dor por estas noites de luar de madeira viva axadrezada neste jogo impiedoso das nossas vidas , espero por seguimentos mortais na brisa dum vento que sopra em meu redor...

Sou o doente da verdade , muro lamentável que espera as raízes do mal...estou tão perdido como das primeiras vezes...

Já nada sinto nesta historia
Já nada creio em meu redor
Nunca esperei chegar nem sequer partir separado do corpo e alma...

separei-me...separei-me de ti.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sabedoria das memórias

Perseguem-se acorrentadas na minha visão danças severas translucidadas de imaginação...
Adormeço por vagos momentos neste cansaço que me leva a cair numa respiração incerta e assustada , quero sentir e revigorar este corpo de mentira que se ergue na vergonha decadente e sem emoção.

Aonde se encontra a saída deste túmulo frio que me prende num fundo sem aviso em suas sombras,uma energia monstruosa se levanta da terra electrificada condutora de morte...raio de poder nas criptas duras que absorvem chamas iluminando a noite num azul brilhante da mente.

Falsidade a cada lugar que vou , cinismo no sorriso penoso em suas farsas , a maldade é a sua desgraça...oh que me agarre e que se desfaça.

Perdi o controlo...
perdi e esqueci a sociedade cega nas suas mentiras...
vivem-se sonhos reais e celebram-se as estrelas de sabedoria infinita.

Suavemente venham-me ver cair pelas agrestes e imperfeitas trepadeiras escondidas...
Venham admirar este raio de sol que trespassa os ramos cruzados da imortalidade , observem a minha queda reinventada em poços secos que me inundam de vazio , lancem sorrisos sobre a minha forma sombria que se desfaz numa figura fina de cor.

Agora já é noite...esta noite em que esqueço os momentos passados no inferno , como por vezes tudo muda com o tempo...onde estive até agora ?
Sinto-me lançado num abandono calmo , esquecido pelos demónios do passado e agarrado as sombras do futuro...isolado neste circulo que se levanta suavemente em direcção ao topo dos sonhos.
Envelheço e encontro-me comigo próprio , já senti o fim inúmeras vezes como um habito rotineiro dos meus dias , mesmo assim continuo a ter medo...

A minha pele transforma-se na sabedoria das memorias perdidas do presente , alcanço pequenos momentos felizes por cada mudança silenciosa que se agita na minha alma , sinto a brisa que passa e o calor que me transpira revelando as suas curas naturais...largo alguns pesos e acumulo novas ideias.

Livre e vulnerável...

Sentado num canto penso...faz-se silencio nas pausas do mundo , sinto um corpo que sobrevive para se encontrar num espaço e tempo...analiso como a vida passa por nós neste murmúrio esquecido em quatro paredes.

Pode ser tudo tão belo
Pode ser tudo meu
Sou cada dia mais humano na busca deste infinito desconhecido...

Mas...

A pele fina junta-se com os ossos da mortalidade.