O meu quarto esta vazio desde do dia em que deixei de te ver...não tenho mais memorias aonde me possa agarrar pois nem as paredes sangram de dor nem saudade , apodera-se de mim o sentimento de perda...
Saio para a rua e tento encontrar o cheiro do dia , procuro nos meus olhos aquela neblina que viaja num passado distante revelador das maldades do corpo...aquele que tocas-te no verdadeiro dia das duas almas que se encontraram pálidas e sem expressão...vejo agora fugir de mim o teu rosto de serenidade na minha mão morta e branca que perdeu o rasto do amor verdadeiro que sentiu por ti.
Junto ao espelho veias grossas criam em mim a força de sobreviver dando ritmo de vida à expressão do meu olhar , ardem perdidas as nossas palavras nas cinzas da manhã que nos esperavam ao acordar...sonolência a minha caída no peso da consciência , mostra-me a verdade nua crua sem vergonha nem piedade antes que seja tarde...aqueles belos horizontes que percorri afundam-se cada vez mais pelos caminhos ocultos do destino , cruel destino o meu que um dia amou sem nunca ter amado...podia deixar-me ficar mais um pouco se o teu coração deixa-se.
Os meus cabelos ardem suavemente lançando fumos malfeitores que mancham estas paredes amareladas e doentes...pois elas não me escutam mais...apenas o fogo fala enquanto se inflamam as cortinas da noite fechadas neste canto divido e amargurado...atrás mim apelam-se verdades que me magoam....verdade que se esconde na visão dum sol renascido que espreita por entre os ramos a vinda de mais um dia sem ti...